O professor Fábio Vergara Cerqueira, do Instituto de Ciências Humanas (ICH/UFPel) ministrará palestra no Laboratório de Estudos do Império Romanao / Mediterrâneo Antigo, na Universidade de São Paulo (USP), no dia 08 de março. A conferência tem como título “Etnicidade e interculturalidade na cerâmica italiota: música e identidades híbridas na iconografia dos vasos ápulos (440 – 270 a.C.)”.
Resumo
A região da Apúlia, na Itália Meridional, situada entre o mar Jônico e o Mar Adriático, em que se localizava a colônia espartana de Tarento, destacou-se como a mais profícua na produção cerâmica da Magna Grécia e Sicília, equivalendo a soma das produções da Lucânia, Campânia e Paesto. Não se trata, porém, de um destaque apenas quantitativo. A cerâmica ápula possui grande riqueza temática e variação técnica. Seu desenvolvimento deu-se, aproximadamente, entre 440-30 e 380-70 a.C. A fase inicial, chamado estilo ápulo recente (440-30 a 380-70), sobretudo nas três primeiras décadas, mantém-se ainda bastante ligada aos modelos áticos. Contudo, em sua fase média (380-70 a 340-30) e fase tardia (340-30 a 380-70), afirma fortes traços regionais e introduz marcantes inovações. De certo modo, esta evolução da cerâmica ápula reflete diferentes momentos da relação entre os gregos coloniais e os povos nativos, com enfraquecimento regional das cidades coloniais gregas no solo italiano e a conquista da hegemonia local por parte dos povos itálicos (messápios, peucécios e dáunios) em meados do século quarto.
As cenas com elementos musicais e, em particular, as representações dos instrumentos musicais, acompanham este ritmo histórico. Ao analisarmos a iconografia dos instrumentos musicais, verificando suas variações morfológicas, seus contextos de utilização e personagens associados, defrontamo-nos diante de questões relativas às identidades e fronteiras culturais, que nos remetem a relações interculturais entre gregos metropolitanos e colonos gregos, entre colonos gregos e nativos itálicos, entre gregos e nativos itálicos, bem como entre nativos itálicos e nativos itálicos.
Como resultado dessas relações interculturais, forma-se uma nova cultura, que reprocessa elementos de tradição grega metropolitana, grega colonial e indígena. Entendemos que este processo pode ser compreendido por meio do conceito de transculturação, do sociólogo cubano Fernando Ortiz: a iconografia dos instrumentos musicais revela a permanência de elementos gregos e afirmação de elementos regionais, assim como a irrupção do novo, em meio ao diálogo entre essas tradições, não se verificando um processo de simples aculturação do nativo pelo grego. Nesta perspectiva, analisaremos a iconografia da kithára e da cítara retangular regional, do týmpanon e do chamado sistro ápulo. Veja o cartaz no arquivo divulgacao.pdf