Coordenadoria de Comunicação Social

Universidade Federal de Pelotas

Carta ao Mestre: a Pedagogia de João Simões Lopes Neto

8 de Dezembro de 2008


Dando prosseguimento às pesquisas sobre o Manuscrito “Artinha de Leitura” de
JSLN, o Grupo de Pesquisa “Escrita: Produção e Recepção” (CNPq) elaborou uma
análise da “Carta ao Mestre” que o escritor pelotense deixou grafada logo no
início de sua cartilha. Manuscrita e parcialmente ilustrada em 1907 e
dedicada “as escolas urbanas e ruraes”, a cartilha “Artinha da Leitura” foi
encaminhada, em julho de 1908, ao Conselho de Instrucção Pública do Rio Grande
do Sul que a rejeitou, escrevendo:
“Sobre a cartilha primaria ‘Serie Brasiliana’, em manuscrito, de J. Simões
Lopes Netto, entende o Conselho que, não podendo o Estado impõr a orthographia
seguida pelo autor, deve ser reparado o trabalho por estar em desacõrdo com o
Regulamento e não obedecer ao criterio de ensino” (Ata da 6ª Sessão,
25/07/1908).

Durante esses cem anos de desaparecimento, o manuscrito recebeu diferentes
nomes: “livro didactico-primário” por João Simões Lopes Neto (1904); “cartilha
primária” pelo Conselho de Instrução Pública (1908); “livro sobre motivos rio-
grandenses intitulado Artinha de Leitura” por Carlos Reverbel (1945); “Eu no
Colégio” por Manoelito de Ornellas em 1955; “O verdadeiro Terra Gaúcha” por
Carlos Francisco Sica Diniz (2003) e “livro de leitura” por Aldir Schlee
(2006). Encontrado em novembro de 2008 e depositado aos cuidados do IJSLN, o
manuscrito pode finalmente ser conhecido e estudado, uma vez que foi
digitalizado pelo NDH/UFPel.
A “Carta ao Mestre” que se encontra na página 4 do manuscrito, entre outras
preciosidades, indica que “Ler e escrever devem andar de par”. João Simões,
então, sugere ao mestre que “logo de começo, faça por que o aprendiz vá
ajeitando-se, educando a mão, os dedos, a segurar o lápis. Podendo ser, faça-o
praticar com o lápis e papel, este em pequenas folhas avulsas; a chamada pena
de pedra e a louza tornam a mão pezada. Vijie em que durante o trabalho, o
aprendiz guarde uma posição hijienica: natural e cômoda” (JSLN, 1907, p.4).
Para o escritor, a letra e seu traçado eram importantes, tanto que escreveu:
“Durante o primeiro tempo somente exercicios de linhas, retas e curvas, e
ângulos. Procure que essa tarefa inicial vá sendo bem feita e que para o
deante o aprendiz escreva sempre com boa letra, simples, sem arabescos,
alinhada e em pé (reta). A escrita reta ou em pé corresponde á atitude que a
criança toma espontaneamente quando escreve pela primeira vez; a escrita reta
que é um importante auxiliar para o ensino da leitura, é também mais lejível
que a inclina da e ocupa menos espaço” (JSLN, 1907, p.4).
Embora afirme que ler e escrever “devem andar de par”, quase todas as
indicações do escritor são no sentido da escrita, sem arabescos, clara, ou
seja, em busca de um treino gráfico, o que pode ser observado no fragmento a
seguir:
Depois - no segundo, terceiro mez - vá dando-lhe a fazer as letras de cursivo
e romanas, como exercicio de copia; dê-lhe também singelos modelos de
desenhos, sem sombra, ou que elle os trace de memória: uma pá,  uma chave,
cadeado, relojio, chaleira, etc. Quando bastante adestrado em copiar letras e
silabas, começará a escrever sob ditado e assim apura o ouvido e a atenção.
Faça-o sempre ler o que escreveu.
Em nota de rodapé JSLN apela para o bom senso do mestre, tanto no que
concerne “a duração da aula, distribuição dos trabalhos, horário” bem como a
utilização das notas de seu livro. Em suas palavras, “tudo fica subordina ao
senso prático, tirocinio e cultivo do mestre” (JSLN, Artinha da Leitura, 1907,
pág. 04). Mais informações sobre os estudos que vêm sendo desenvolvidos contate o e-mail cris@ufpel.tche.br .

Seção: Notícias