Coordenadoria de Comunicação Social

Universidade Federal de Pelotas

Formigueiro artificial da UFPel vive seus últimos dias

31 de Março de 2008

formigueiro-004-1.jpgObjeto de curiosidade para incontáveis alunos da rede escolar, estudantes de graduação e de pós-graduação, para adultos e crianças, e fonte de significativos e inéditos conhecimentos científicos e tecnológicos, o formigueiro artificial montado há 22 anos na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel(Faem) da UFPel vive seus últimos dias. Da população que variou entre cinco e sete milhões de formigas, durante estas mais de duas décadas, restam poucos insetos que continuam a percorrer os agora esvaziados caminhos da estrutura de madeira, metais e tubos de acrílico, colocada sobre uma mesa numa sala climatizada do andar térreo da Faem.

A sociedade das formigas artificialmente montada no campus da UFPel está condenada por uma causa única e irremediável. A formiga-rainha, responsável pela reposição da população do formigueiro, morreu em setembro do ano passado. Desde março de 2007, o professor Alci Enimar Loeck, idealizador,
construtor e mantenedor do formigueiro, vinha notando uma queda na população de formigas e não mais registrou a presença de formas jovens. A rainha já não gerava mais novos indivíduos. Ela foi encontrada morta, sem a cabeça e as pernas, na área em que as formigas depositavam o lixo e seus mortos. 

A jovem colônia de formigas foi coletada pelo professor da UFPel em fevereiro de 1986, na região de Fortaleza dos Valos, no centro-oeste gaúcho, originada de uma revoada ocorrida em outubro de 1985,  pertencente a espécie Atta Sexdens piriventris. A partir daí, o formigueiro foi mantido artificialmente no Laboratório de Mirmecologia do Departamento de Fitossanidade da Faem.

“As informações sobre a longevidade de rainhas de formigas-saúvas são escassas, por isso é importante esse registro”, observou Loeck. Até o momento, somente havia um registro desta natureza, ocorrido na Escola Superior de Agronomia Luís de Queiroz(Esalq), em Piracicaba, São Paulo, cuja rainha pertencente a espécie Atta sexdens rubropilosa viveu 21 anos, evento também acompanhado pelo professor Loeck.

Não só o tempo de vida da rainha ainda era um dado a ser confirmado, como também o tempo de vida das formigas operárias que, de acordo com a casta a que pertencem, podem viver de cinco meses a um ano e três meses, sendo as mais longevas os soldados, que são os exemplares maiores, de cabeça grande e que têm a finalidade de defender a colônia de possíveis intrusos.

O que para os leigos poderia ser uma saída para evitar a morte do formigueiro, a substituição da rainha, na prática, observa-se inviável. Conforme explicou o professor Loeck, não é possível colocar uma rainha nova, pois o formigueiro a rejeitaria e a própria rainha não teria condições de realizar as tarefas da antiga, por possuir uma programação cronológica de “trabalho” diferente.

Resultados

O formigueiro artificial foi um laboratório de pesquisas extremamente fértil. Como a formiga é uma praga de importante interesse econômico, era preciso entender sua vida para controlá-la. No formigueiro foram realizados trabalhos sobre a longevidade dos insetos; na área de cariotipia, ou seja, determinação do número de cromossomos destes animais(o número de cromossomos desta e outras espécies de formigas foi descoberto na UFPel);  e também sobre a regionalização no Estado, ou seja, a distribuição das espécies no RS, o que originou a publicação do livro “Ocorrência de formigas cortadeiras nas principais regiões agropecuárias do RS”, em 2001.

Pesquisas sobre comportamento; a respeito do controle da praga formiga, que tem repercussão em diversos setores, como nas áreas de florestamento; e estudos moleculares sobre o fungo cultivado pelas formigas e que serve de alimento para elas também foram realizados. Estas pesquisas determinaram que diferentes espécies de formigas não cultivam os mesmos fungos, ao contrário do que se pensava até então. A importância desta descoberta está em sua aplicação como controle da praga, tendo como alvo a comida da formiga.

“Neste momento sinto pelos alunos das escolas, que sempre vieram ao laboratório observar o formigueiro e demonstraram tanto interesse e curiosidade”, lamentou o professor.  

Seção: Notícias