Coordenadoria de Comunicação Social

Universidade Federal de Pelotas

Laboratório ao ar livre, Horto Irmão Theodoro Luis esconde encantos

20 de Outubro de 2011

horto.jpg Ao fundo do campus Capão do Leão, em uma área preservada de cerca de 100 hectares, oito dos quais sob a responsabilidade da UFPel, o Núcleo de Ensino e Pesquisa em Botânica, do Instituto de Biologia, zela por um verdadeiro tesouro natural. Fundado em meados dos anos 1940, por aquele que lhe empresta o nome, o Horto Botânico Irmão Theodoro Luis é até hoje um local bucólico, que atende à pesquisa e serve de habitat para múltiplas espécies botânicas. O restante da área (92 hectares) está sob a guarda da Embrapa.

jsacco1.JPG Segundo o professor José da Costa Sacco, no local estão representados os quatro tipos fisionômicos principais da formação vegetal maior de Pelotas e arredores: campo arenoso seco, banhado, mata arenícola e mata paludícola. “É uma área não alterada e, sobretudo no que se refere às formações florestais, sua estrutura primária permanece intacta”, observa.

dsc_01901.JPG À época de sua criação, seus recursos naturais eram abundantes e pareciam ser inesgotáveis. Hoje sob responsabilidade da UFPel, é uma área de preservação permanente, sua regulamentação ocorreu em 1964 ao perceber-se a importância do mesmo para a pesquisa. Seu fundador, Ir. Theodoro Luis, com espírito de um naturalista e amante da natureza, tinha a imensa preocupação em preservar aquele local. Até então, o Horto pertencia ao Instituto Agronômico do Sul (IAS).  Logo após Theodoro Luis foi convidado pelo diretor do Instituto para criar uma seção de botânica. “Ele tinha a natureza em suas mãos e se encantou por aquela área. O Horto é um mato natural, um dos últimos da Mata Atlântica”, comenta o professor do IB.

dsc_01921.JPG Aos arredores moravam as famílias dos operários, o local era chamado de vila operária. Sacco comenta que “a tendência da gurizada era vir matar passarinhos, mas como os pais estavam aqui, conseguiu-se fazer um entrosamento da comunidade com esta mata, e criou-se um laço de amor entre eles. Logo mais esses meninos começaram a ajudar a preservar. Quando havia a possibilidade de fogo, por exemplo, tocava-se um sino para impedir que o incêndio acontecesse. De modo que, nos primeiros momentos, nós tivemos uma verdadeira batalha para a preservação”.  Ele acrescenta que a preservação, estudo e cuidado com o Horto foi sua grande missão.

dsc_01861.JPG O Horto era dividido em partes, que eram chamadas de “bosques”, onde, cada operário era responsável por uma parcela da mata. A manutenção era feita para a recepção dos visitantes. De acordo com a coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Botânica, Leila Macias “naquela época, a intenção era oferecer aos visitantes e, sobretudo, aos estudantes, um local adequado ao desenvolvimento de estudos agronômicos nas áreas de Botânica, Entomologia, Ecologia e Patologia. Com esse fim, foi publicado um Guia dos Visitantes (Luis & Bertels 1951), no qual constavam levantamentos da flora e da fauna entomológica locais. Para melhor trânsito dos visitantes, foram abertas “avenidas”, “ruas” e “picadas”, que dividiam a mata em setores ou “bosques”.

Hoje, os cuidados são bem diferentes, é proibida retirada de qualquer elemento do local. No Horto existe uma auto preservação, ou seja, folhas e galhos que naturalmente caem futuramente irão decompor-se dando lugar às novas plantas que virão. Esse processo ocorre sem intervenção alguma do homem a fim de realizar por si só um ciclo natural. Leila chama a atenção: “Uma coisa interessante é a quantidade de vida que existe sobre as plantas e figueiras. Todas elas interagem, elas não são plantas parasitas, e sim epífitas, isso quer dizer que não prejudicam uma a outra.”

Observa-se ao longo da mata, nas partes mais baixas, a presença de samambaias de diferentes espécies devido à localização em região mais úmida. O micro-clima que se tem nessa área diferencia-se dos pontos mais altos e dessa forma encontra-se uma diversidade muito grande de plantas, marcado por um ecossistema que encontra-se em equilíbrio.

O professor Sacco finaliza com o seguinte questionamento, ao observar a mata e relembrar das tentativas de destruição do Horto nos anos 50: “Será que o homem tinha o direito, lá pelos anos de 1954, de tirar tudo isso dos olhos de vocês?” referindo-se aos atuais estudantes da UFPel.

Seção: Notícias