Ao fundo do campus Capão do Leão, em uma área preservada de cerca de 100 hectares, oito dos quais sob a responsabilidade da UFPel, o Núcleo de Ensino e Pesquisa em Botânica, do Instituto de Biologia, zela por um verdadeiro tesouro natural. Fundado em meados dos anos 1940, por aquele que lhe empresta o nome, o Horto Botânico Irmão Theodoro Luis é até hoje um local bucólico, que atende à pesquisa e serve de habitat para múltiplas espécies botânicas. O restante da área (92 hectares) está sob a guarda da Embrapa.
Segundo o professor José da Costa Sacco, no local estão representados os quatro tipos fisionômicos principais da formação vegetal maior de Pelotas e arredores: campo arenoso seco, banhado, mata arenícola e mata paludícola. “É uma área não alterada e, sobretudo no que se refere às formações florestais, sua estrutura primária permanece intacta”, observa.
À época de sua criação, seus recursos naturais eram abundantes e pareciam ser inesgotáveis. Hoje sob responsabilidade da UFPel, é uma área de preservação permanente, sua regulamentação ocorreu em 1964 ao perceber-se a importância do mesmo para a pesquisa. Seu fundador, Ir. Theodoro Luis, com espírito de um naturalista e amante da natureza, tinha a imensa preocupação em preservar aquele local. Até então, o Horto pertencia ao Instituto Agronômico do Sul (IAS). Logo após Theodoro Luis foi convidado pelo diretor do Instituto para criar uma seção de botânica. “Ele tinha a natureza em suas mãos e se encantou por aquela área. O Horto é um mato natural, um dos últimos da Mata Atlântica”, comenta o professor do IB.
Aos arredores moravam as famílias dos operários, o local era chamado de vila operária. Sacco comenta que “a tendência da gurizada era vir matar passarinhos, mas como os pais estavam aqui, conseguiu-se fazer um entrosamento da comunidade com esta mata, e criou-se um laço de amor entre eles. Logo mais esses meninos começaram a ajudar a preservar. Quando havia a possibilidade de fogo, por exemplo, tocava-se um sino para impedir que o incêndio acontecesse. De modo que, nos primeiros momentos, nós tivemos uma verdadeira batalha para a preservação”. Ele acrescenta que a preservação, estudo e cuidado com o Horto foi sua grande missão.
O Horto era dividido em partes, que eram chamadas de “bosques”, onde, cada operário era responsável por uma parcela da mata. A manutenção era feita para a recepção dos visitantes. De acordo com a coordenadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Botânica, Leila Macias “naquela época, a intenção era oferecer aos visitantes e, sobretudo, aos estudantes, um local adequado ao desenvolvimento de estudos agronômicos nas áreas de Botânica, Entomologia, Ecologia e Patologia. Com esse fim, foi publicado um Guia dos Visitantes (Luis & Bertels 1951), no qual constavam levantamentos da flora e da fauna entomológica locais. Para melhor trânsito dos visitantes, foram abertas “avenidas”, “ruas” e “picadas”, que dividiam a mata em setores ou “bosques”.
Hoje, os cuidados são bem diferentes, é proibida retirada de qualquer elemento do local. No Horto existe uma auto preservação, ou seja, folhas e galhos que naturalmente caem futuramente irão decompor-se dando lugar às novas plantas que virão. Esse processo ocorre sem intervenção alguma do homem a fim de realizar por si só um ciclo natural. Leila chama a atenção: “Uma coisa interessante é a quantidade de vida que existe sobre as plantas e figueiras. Todas elas interagem, elas não são plantas parasitas, e sim epífitas, isso quer dizer que não prejudicam uma a outra.”
Observa-se ao longo da mata, nas partes mais baixas, a presença de samambaias de diferentes espécies devido à localização em região mais úmida. O micro-clima que se tem nessa área diferencia-se dos pontos mais altos e dessa forma encontra-se uma diversidade muito grande de plantas, marcado por um ecossistema que encontra-se em equilíbrio.
O professor Sacco finaliza com o seguinte questionamento, ao observar a mata e relembrar das tentativas de destruição do Horto nos anos 50: “Será que o homem tinha o direito, lá pelos anos de 1954, de tirar tudo isso dos olhos de vocês?” referindo-se aos atuais estudantes da UFPel.