As lembranças das internações ficaram marcadas na memória, porém elas já fazem parte do passado de oito pacientes com doenças mentais crônicas que participam do Grupo Liberdade, que funciona na Faculdade de Medicina da UFPel. O grupo, criado em 1996, com base na Reforma Psiquiátrica, tem o objetivo de dar assistência aos pacientes psiquiátricos e suas famílias visando o bem-estar, a reintegração na sociedade e a diminuição das internações.
No grupo, os pacientes participam de atividades culturais, artísticas e de lazer e, principalmente, encontram ali uma ajuda para não entrar em crise novamente. “Faço o tratamento para me sentir bem e me apoio no grupo para continuar”, disse Rosana.
De acordo com a assistente social, Nilza Bertoldi a diminuição nas internações chega a 97%. Dona Eli, no grupo desde 1996, conta que constantemente era internada, ao todo foram 12 internações, há cinco anos não é hospitalizada e ela sabe muito bem o que deve fazer para que siga sem internação. “Tomar os medicamentos e trazer os problemas para o grupo, pois o grupo ajuda a gente a resolve-los, evitando as nossas crises”, afirmou. De acordo com Nilza Bertoldi, a mudança na vida de cada um é facilmente percebida. “A maioria nem saia de casa e aos poucos foram se reintegrando. Antes tínhamos que levá-los nos lugares para os passeios e recreações, agora eles vão sozinhos”. No ambiente familiar também nota-se o avanço, a família sempre é abalada pela doença, com as atividades do grupo, os problemas são minimizados e até superados.
O residente que acompanha o grupo, Juliano Porto, também trabalha no Hospital Espírita, portanto possui o conhecimento dos dois universos, da internação e do trabalho de humanização do tratamento. “Cheguei aqui com uma visão cética dos resultados do grupo. Porém, com a convivência isto mudou. Se existissem mais estruturas assim, as internações diminuiriam bastante”, disse. Para Juliano, o diferencial do projeto, é tratar o paciente como um todo e não como um diagnóstico. “Oferecemos todo o suporte para que o paciente não entre em crise, atendemos a família e prestamos atendimentos extras quando necessário”, disse.
O forte do grupo é a expressão da arte. Artesanato, crochê, desenho e pintura estão entre as principais atividades desenvolvidas. Os pacientes já participaram de livros de arte, concursos e de várias exposições, inclusive no Museu do Louvre em Paris. O grupo recebe ajuda de empresas de ônibus, lojas e várias entidades, porém necessita de materiais para desenvolver suas atividades artísticas. “Toda ajuda é bem-vinda”, disse Nilza Bertoldi
Outras três oficinas também fazem parte do projeto do Departamento de Saúde Mental da UFPel e funcionam na UBS Centro Social Urbano, UBS Areal Leste e UBS Vila Municipal. As oficinas tratam de 37 pacientes. Entre as doenças mais comuns estão a esquizofrenia e o transtorno bi-polar. Ao todo, dez profissionais trabalham diretamente com os grupos, quatro residentes, quatro assistentes sociais e dois professores, além de voluntários e das equipes de apoio das UBS’s.