A tuberculose é uma das enfermidades mais antigas e conhecidas do mundo, mas não é doença do passado. No mundo inteiro, por décadas, até se chegou a ter a perspectiva de eliminação da tuberculose. Aí, veio a epidemia de Aids e o cenário mudou por completo. A tuberculose é hoje um problema do cotidiano. Desde 1993, foi declarada emergência global pela OMS. Para a transmissão, basta conviver com alguém doente, mesmo ocasionalmente, para se infectar pelo bacilo. Uma pessoa com tuberculose não tratada pode infectar 10 a 15 pessoas por ano na sua comunidade. Acredita-se que um terço da população mundial esteja infectada pelo bacilo da Tuberculose.
No Brasil, Em 2008, segundo estimativas do Ministério da Saúde, 92 mil pessoas desenvolveram tuberculose; 73 mil foram notificados ao Ministério da Saúde. O Brasil ocupa o 18º lugar no mundo em número absoluto de casos. Em incidência (número de casos por 100.000 habitantes), o 108º. A tuberculose causa 4,5 mil óbitos por ano no país . Trata-se da primeira causa de morte entre os pacientes com Aids. É fundamental todos nós conhecermos os sintomas da doença para que o diagnóstico precoce e o tratamento sejam efetivados. Em 1999 a OMS objetivou em nível mundial, a redução da Tuberculose em 50% até 2015, e desde então o Brasil vem pactuando entre as três esferas de gestão, indicadores epidemiológicos equivalentes a detecção de 70% dos casos BK positivos; curar 85% destes casos; manter o óbito, o abandono do tratamento abaixo de 5% e a cobertura vacinal com a vacina BCG acima de 95% nos recém nascidos. Alguns destes indicadores justificaram o presente estudo.
No primeiro artigo do estudo foi descrita tendência dos indicadores da tuberculose em relação à sua prevalência e incidência e os percentuais dos desfechos dos casos no encerramento (cura, abandono do tratamento ou óbito) dos pacientes que ingressaram no Programa em Sapucaia do Sul, RS, entre 2000 e 2008. Foi realizado um estudo ecológico. Foram realizadas diferentes análises. Verificaram-se que os indicadores não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre as taxas anuais ou nas combinações durante o período. Os desfechos estavam abaixo das metas propostas pela Organização Mundial de Saúde, o que compromete o controle da doença, já que não se consegue interromper a cadeia de transmissão.
O segundo artigo teve como objetivo estabelecer a prevalência de abandono do tratamento da tuberculose nos pacientes que ingressaram no Programa do município de Sapucaia do Sul, RS, entre 2000 e 2008, bem como descrever suas características associadas. Foi realizado estudo transversal baseado em dados notificados no SINAN/SMS. Dos 659 casos incluídos no estudo, 11,7% foram classificados como abandono do tratamento. A análise não mostrou diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis. A prevalência de abandono do tratamento foi considerada alta.
Este estudo demonstrou que ainda persistem importantes diferenças entre os indicadores epidemiológicos pactuados e alcançados durante os anos analisados. Diante desta abrangência, a redução da incidência da Tuberculose, assim como o diagnóstico precoce, a diminuição do abandono do tratamento e o óbito ainda se constitui num grande desafio para os gestores de saúde, principalmente nos seus componentes de diagnóstico precoce, mortalidade e abandono do tratamento. Espera-se que a divulgação dos resultados encontrados neste estudo possa servir de instrumento para planejar e implementar ações integradas da vigilância em saúde com a atenção primária, secundária, terciária e gestão intersetorial, utilizando a saúde pública baseado em evidências para planejar e implementar a política pública municipal de controle da Tuberculose, contemplando a estratégia DOTS e buscar a qualidade da assistência dos serviços de saúde, com a participação da sociedade civil com o objetivo de melhorar as condições de vida da população e o controle efetivo da Tuberculose.
A pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel tem como autora Maria Antônia Heck e será apresentada nesta quinta-feira(25) às 14h, no Auditório Kurt Kloetzel, do Centro de Pesquisas Epidemiológicas, tendo como orientador o professor Juvenal Dias da Costa. A Banca Examinadora é composta pelos professores Marcos Patussi (Unisinos) e Denise Gigante (UFPel).