Dando prosseguimento às pesquisas sobre o manuscrito inédito de João Simões Lopes Neto (JSLN), o grupo de Pesquisa “Escrita: Produção e Recepção” (CNPq) representado pela Drª Cristina Rosa esteve presente à cerimônia de entrega da “Artinha de Leitura”, que ocorreu às 15h da última sexta-feira(21), no auditório do Instituto João Simões Lopes Neto(IJSLN).
Entre emocionada e surpresa, a professora drª. Helga Landgraff Piccolo (UFRGS) contou aos presentes as peculiaridades do descobrimento do manuscrito entre seus guardados. Logo depois, em cerimônia pública, o manuscrito foi entregue ao IJSLN pelo Núcleo de Documentação Histórica da UFPel através de um “instrumento Público de Comodato”.
Já digitalizado e disponível para pesquisas, o documento raro foi escrito, muito provavelmente, sobre um caderno de escola
O manuscrito está encadernado com um capa dura, vermelha, diferente de todos os outros manuscritos deixados por JSLN, indicando que, anteriormente a sua chegada às mãos da professora Helga, provavelmente recebeu cuidados de um bibliófilo.
O Grupo de Pesquisa descobriu que, logo depois que foi entregue ao Conselho de Instrucção Pública a “Artinha” desapareceu. Na verdade, talvez ninguém a tenha procurado por um bom tempo e o documento só tornou-se motivo de busca quando JSLN já havia sido “descoberto” e reconhecido publicamente através do trabalho publicado por seu maior biógrafo: Carlos Reverbel, em 1981. Como possivelmente acontece com outros escritores logo após a morte, o que restou do espólio do escritor pelotense passou a ser descrito, estudado, preservado sem que a “Artinha” fosse encontrada.
Ao ser arquivado na Secretaria do Interior, o trabalho de Simões passou a receber nomes diferenciados, o que pode ter contribuído para disseminar incertezas a respeito de sua existência. Inicialmente anunciado como “livro didactico-primário” por João Simões Lopes Neto (Conferência Educação Cívica, 1904), ao ser entregue ao Conselho de Instrucção Pública foi alcunhado de “Cartilha de leitura: Serie Brasiliana” (Acta da 5ª Reunião, 21/07/1908) e quatro dias depois, “cartilha primaria ‘Serie Brasiliana’ pelo mesmo Conselho (Acta da 6ª Sessão em 25/07/1908).
Carlos Reverbel, o primeiro a registrar o conteúdo do Baú deixado pelo Capitão, denominou-a de “livro sobre motivos rio-grandenses intitulado Artinha de Leitura” em uma matéria intitulada “João Simões Lopes Neto: Esboço Biográfico em tempo de reportagem” publicado na Revista Província de São Pedro em setembro de 1945.
Outro dos nomes que a “Artinha” recebeu foi de um grande amigo de Dona Velha, a esposa do escritor João Simões. Ao escrever sobre o conteúdo do Baú deixado por Simões e a ele franqueado para estudos pela viúva, Manoelito de Ornellas referiu-se ao documento como “livro Artinha de Leitura” em uma coluna do Correio do Povo em 1948. Dez anos depois, nomeou-o de “Eu no Colégio” no prefácio de Terra Gaúcha (1955). Já em Pelotas, há dois estudiosos que publicaram obras biográficas sobre o escritor e que, em seus trabalhos, referiram-se à artinha de diferentes modos: “O verdadeiro Terra Gaúcha” por Carlos Francisco Sica Diniz (2003) e “livro de leitura” por Aldir Schlee (2006).
Por que “Artinha”
Embora o nome possa parecer estranho a quem não estude os métodos e processos de alfabetização no Brasil, “artinha” é empregado em manuais de alfabetização desde 1752, quando Antonio Pereira de Figueiredo celebrizou-se pela publicação do “Novo Methodo da Grammatica Latina” - a “Artinha Latina” - considerado uma revolução no ensino do Latin no Brasil (Teixeira, 1999, p.40) “Artinha” também pode significar um diminutivo de Arte e é sinônimo de “jeito de fazer” ou mesmo método. Além disso, pode ter sido escolhido por JSLN para nomear seu livro didático por ser similar ao Método de um outro João - o João de Deus - para alfabetizar. De orientação sintética, o método proposto por João de Deus desde 1876 (MORTATTI, 2000) está registrado