No início do mês de novembro, a professora dra. Helga Landgraff Piccolo, decana da UFRGS e professora do pós-graduação de História daquela universidade, entrou em contato com a professora Beatriz Ana Loner informando que encontrou o manuscrito de Simões Lopes Neto entre seus guardados, quando estava desfazendo-se de sua biblioteca e que, provavelmente, tenha recebido de outros professores, que lhe passaram seus arquivos, só tendo conhecimento dele, agora, quando o “achou” em meio a 5.000 volumes. Tendo consciência da importância do mesmo para a história das letras de Pelotas, imediatamente encaminhou-o para a professora Beatriz, sua ex-aluna.
Com o achado, desfez-se um dos maiores medos de estudiosos da obra de Simões Lopes Neto, que temiam que a obra tivesse sumido definitivamente.
A História da “Artinha de Leitura”
O documento foi enviado para o Conselho de Instrução Pública do RS em 1907, pelo autor, com o fim de que fosse publicado como cartilha de primeiras letras para crianças no Estado e estava desaparecido desde então.
Após avaliação, o Conselho recusou a adoção da cartilha, alegando que estaria em desacordo com a nova reforma ortográfica. Segundo Reverbel, isso motivou João Simões a escrever-lhes um memorial, com o titulo de “Ligeira contradita de uma decisão do Conselho de Instrução Pública”. Contudo, o conselho não mudou de opinião e como Simões Lopes Neto não fizer cópia do manuscrito, este ficou perdido no meio da burocracia da secretaria. O que se pode saber, pelos carimbos que ostenta, é que depois, foi encaminhado a Secretaria do Interior do Estado, também não se sabendo por quem foi resgatado do olvido e do pó das prateleiras da burocracia governamental.
Trata-se e uma cartilha de 90 páginas, manuscrita, na qual João Simões se apresenta como lente da Academia de Comércio de Pelotas e que seria, na concepção do seu autor, a primeira parte de um trabalho de maior fôlego, que seria chamado de “Terra Gaúcha”.
Em 1907, o autor tinha a idéia de reparti-lo em vários volumes. Como se pode ver pela primeira página, ele pretendia que esta fosse a parte inicial de uma coleção didática que incluiria:
- Artinha de leitura
- Eu na escola (manuscrito encontrado)
- Terra gaúcha (parcialmente editado)
- Hinos e Glórias do Brasil (do qual não se teve notícia).
Chama a atenção que ele já é apresentado como fazendo parte da coleção Brasiliana, que depois ficou reduzida a duas series de cartões postais sobre fatos e objetos históricos do Brasil.
Ao final do manuscrito, Simões Lopes insere, de próprio punho, considerações como se deve portar o professor, aconselhando ao mestre a ter muita paciência. Também encontram-se quatro pequenos contos infantis e um texto sobre a reforma ortográfica.
Uma última curiosidade a respeito do manuscrito é o fato de que as observações iniciais não conseguiram comprovar que todas as páginas foram escritas por Simões Lopes, o que não seria novidade, visto que frequentemente ele se valia de um amigo, Prudêncio Ribeiro, para que os copiasse. Contudo, após a divulgação da “Artinha…” e sua análise por especialistas esta resposta poderá ser dada de forma conclusiva.
Destino
O manuscrito inédito do famoso autor regionalista pelotense João Simões Lopes Neto será repassado ao Instituto que leva seu nome nesta sexta-feira (21), em solenidade que ocorrerá às 15h, em sua sede, à rua Dom Pedro II, 810.
A forma de entrega do mesmo se dará por Instrumento Público de Comodato, resguardando ao Núcleo de Documentação Histórica (NHD/UFPel), coordenado pela professora Beatriz Loner, o direito de, verificando-se a necessidade, recuperá-lo ao acervo do NDH-UFPel. A idéia de ceder o manuscrito ao Instituto deve-se ao fato de que lá ele estaria em “sua casa”, podendo ser consultado pelos interessados mais facilmente. Em breve o site do NDH-UFPel (http://www.ufpel.edu.br/ich/ndh) estará disponibilizando a obra digitalizada para os interessados.