Coordenadoria de Comunicação Social

Universidade Federal de Pelotas

Não há relação entre amamentação e delinqüência

25 de Julho de 2008

Pesquisa realizada no programa de pós-graduação em Epidemiologia da UFPel revelou que não há relação entre a amamentação e o desenvolvimento de problemas de conduta que levem à criminalidade. As condenações judiciais, conforme o trabalho da mestranda Beatriz Velásquez, podem estar mais relacionadas com a classe social e com a cor da pele, ou seja, filhos de mães negras ou pardas e de famílias de baixa renda apresentam maior risco de serem condenados.
Conforme a pesquisadora, no Brasil houve um aumento significativo da violência urbana nos últimos 20 anos, com a crescente participação de jovens como autores de condutas delitivas (ilegais). De acordo com as pesquisas sobre violência, os delitos são praticados por pessoas cada vez mais jovens e com maior violência.
“A conduta delitiva violenta pode ser entendida como o resultado de muitos fatores que atuam em diferentes momentos da vida das pessoas”, disse Beatriz. O estudo realizado na UFPel avaliou se a duração da amamentação poderia proteger o desenvolvimento de problemas de conduta em jovens nascidos na zona urbana de Pelotas, em 1982, todos pertencentes ao estudo de coorte de nascimento desenvolvido pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas. O trabalho, desenvolvido como parte do mestrado em Epidemiologia de Beatriz, foi orientado pelos professores Cesar Victora, Helen Gonçalves e pelo doutorando David Chica e teve apoio da Fundação Wellcome Trust, da Inglaterra.
Na pesquisa foram utilizados dados do nascimento e da infância dos membros da coorte que tinham sido coletados em vários acompanhamentos em anos anteriores. Os dados relacionados aos problemas de conduta foram pesquisados intensivamente pela mestranda em fontes do sistema judicial do município e do Estado. “Estes locais forneceram os dados sobre as condenações deferidas aos membros da coorte pela prática de atos ilegais como homicídio, roubo, lesão corporal, estupro ou extorsão mediante seqüestro entre os 12 e os 25 anos de idade”, conta a mestranda.
Do total de 5.914 membros da coorte, 332 jovens foram condenados por alguma conduta delitiva. Destes, 106 receberam condenação por terem cometido pelo menos um delito violento, sete por homicídio, 66 por lesão corporal, seis por estupro e 37 por roubo ou extorsão, ou latrocínio.
As análises revelaram que filhos de mães com cor da pele parda ou preta ou que pertenciam a famílias de baixa renda no ano do nascimento têm um risco maior de serem condenados.
Em relação à amamentação, os pesquisadores não encontraram evidências de que ela protegeria contra o desenvolvimento de problemas de conduta mais violentos que levem a condenação judicial. “Mas reafirmamos que a prática do aleitamento materno deve ser estimulada, pelos seus benefícios à saúde da criança, como muitos estudos mostraram”, adverte Beatriz.
Conforme a mestranda, o desenvolvimento de condutas delitivas violentas depende, talvez, mais de fatores sociais do que individuais, como a amamentação. “A identificação mais precoce das causas da conduta delitiva violenta permitirá que os jovens possam receber ajuda e ter maiores oportunidades de se inserirem socialmente”, complementa.
A dissertação será defendida às 9h desta terça-feira(29), no auditório Kurt Kloetzel do centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, situado no prédio do Centro de Pesquisas em Saúde Amílcar Gigante, na antiga Casa de Saúde Santa Teresa. Farão parte da banca os professores César Victora, Helen Gonçalves, Bernardo Horta e Ricardo Pinheiro.

 

Seção: Notícias