No Brasil, mais de 2,5 milhões de trabalhadores estão empregados no setor saúde. Desde a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF) pelo Ministério da Saúde, em 1994, as Unidades Básicas de Saúde constituem a base do Sistema Único de Saúde (SUS). Elas fornecem serviços de pediatria, ginecologia, pré-natal, vacinação, odontologia, entre outros. As unidades de saúde vinculadas ao PSF possuem uma ou mais Equipes de Saúde da Família, constituídas por, no mínimo, um médico da família, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde, que são responsáveis por uma área que inclui de 600 a 1.000 famílias.
Atualmente, mais de um milhão de trabalhadores atuam na atenção primária à saúde. A segurança dos pacientes e o acesso a um atendimento de alta qualidade estão ligados ao bem-estar desses trabalhadores. Os acidentes e as doenças entre os trabalhadores da saúde afetam a qualidade da atenção prestada à população. Isso se torna ainda mais relevante quando se trata da atenção básica, já que a Unidade Básica de Saúde é o local procurado por 54% dos brasileiros que precisam de atendimento.
Uma pesquisa elaborada pela doutoranda em epidemiologia, Leila Posenato Garcia, sob orientação do prof. Dr. Luiz Augusto Facchini, junto ao Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel (RS) – cuja defesa de tese ocorrerá nesta sexta-feira(29), às 14h30min, na Sala de Reuniões 1 da Faculdade de Medicina – investigou os acidentes de trabalho entre trabalhadores de Unidades Básicas de Saúde. O estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A defesa de tese de doutoramento será realizada no dia 29 de fevereiro de 2008, às 14:30h, na Sala de Reuniões 1 do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel.
Para a pesquisa, foram entrevistados 1.249 trabalhadores das Unidades Básicas de Saúde do Município de Florianópolis (SC). Os acidentes de trabalho mais freqüentes foram quedas, seguidas pelos acidentes envolvendo sangue e fluidos corporais. Esse tipo de acidente de trabalho é de grande relevância para os trabalhadores da saúde, pois pode resultar na transmissão de doenças, como a hepatite B, a hepatite C e a AIDS. Observou-se que os técnicos de enfermagem, os auxiliares de consultório dentário e os dentistas foram as categorias que mais sofreram esse tipo de acidente.
Os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) se tornaram uma força de trabalho numerosa e essencial na Estratégia de Saúde da Família. Embora realizem um trabalho muito importante, que inclui a realização visitas domiciliares voltadas à educação e promoção de saúde, esses trabalhadores estão expostos a diversas situações de perigo. Além dos acidentes de trabalho convencionais, como quedas, pancadas e torções, também foram registrados casos de mordidas de animais, além de inúmeras situações de violência entre os agentes de saúde.
Observou-se que as condições de trabalho precárias, as cargas de trabalho e a insatisfação com o trabalho resultaram na maior ocorrência de acidentes de trabalho. Além disso, os trabalhadores há menos tempo no emprego tiveram maior chance de se acidentar do que aqueles que trabalham há mais tempo.
A situação revelada pelo estudo evidencia a necessidade de se prestar mais atenção à saúde daqueles que cuidam da saúde da população. O SUS necessita de políticas que valorizem as condições de trabalho e saúde de seus trabalhadores. A melhoria das condições de trabalho nas Unidades Básicas de Saúde é fundamental para reduzir a ocorrência de acidentes de trabalho. A realização de concursos públicos para a contração de servidores para o quadro permanente das Secretarias Municipais de Saúde, como está sendo feito atualmente em Florianópolis, é outra medida imprescindível. O grande número de contratos temporários e terceirizados entre os trabalhadores da atenção básica resulta em uma alta rotatividade desses trabalhadores, que também está relacionada à ocorrência dos acidentes de trabalho. Também há necessidade de programas de educação permanente direcionados à organização, à saúde e à segurança do trabalho.
Citando o Relatório Final da 12ª Conferência Nacional de Saúde: Saúde se faz com gente, gente que cuida de gente. Por isso, os trabalhadores não podem ser vistos como mais um recurso na área de saúde. A saúde da população depende da saúde dos trabalhadores da saúde e da qualidade do seu trabalho que, por sua vez, dependem das condições de trabalho e da capacitação para o seu exercício. O trunfo mais valioso do SUS é seu capital humano, que merece valorização e respeito.