Nesta quarta-feira, dia 19 de setembro, abrirá a exposição individual “Coração Gordo: a multiplicidade experimental”, do artista canoense Fabiano Gummo, na galeria A Sala-Galeria do Centro de Artes da UFPEL, coordenada pelas professoras Eduarda Gonçalves e Alice Monsell. A mostra incluirá mais que 100 desenhos, objetos gráficos tridimensionais, bem como números da Revista PICABU e vídeos produzidos pelo artista. No mesmo dia da abertura, às 17h30, acontecerá um encontro com o artista no Auditório do Centro de Artes. A abertura da exposição acontecerá imediatamente após esta conversa com Fabiano Gummo às 18h30 quando o artista apresentará um vídeo performance.
A curadoria da exposição é de Eduarda Gonçalves e Alice Monsell, professoras do Centro de Artes da UFPEL que, recentemente, se tornaram as novas coordenadoras da galeria. A exposição é uma realização do Centro de Artes e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais – Mestrado do CA/UFPEL, com apoio de Fast Molduras, SulDesign e PROEXT. A galeria é localizada na Rua Alberto Rosa, 62 na zona do Porto em Pelotas e pode ser visitada entre os dias 19 de setembro e 17 de outubro, das 9h às 12h e das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira.
Fabiano Gummo é um artista que flutua entre mídias e sentidos. Sua diversidade técnica se expressa no desenho, no vídeo, na animação, na pintura e em intervenções sonoras. Os trabalhos da exposição “Coração Gordo” assinalam seu desejo de explorar a diversidade excessiva e flutuante de signos e significados das imagens que saturam nosso dia-a-dia. Ele tece técnicas variadas com forte base no desenho expressivo e na linguagem da HQ. Junto com os artistas e autores Carlos Ferreira, Rafael Sica, Rodrigo Rosa, Nik Neves, Leandro Adriano e Moacir Martins, lançou a revista Picabu 4, uma publicação independente de quadrinhos.
As grafias de Gummo são realizadas em suportes diversos – antigos papéis de impressora matricial, papel fino de luxo, canson ou outros tipos, papel offset ordinário, folha de caderno, folhas milimetradas, bloco de notas, post-its, desde 3 x 3 cm até formatos A2. Segundo Gummo, “utilizo tudo que estiver ao alcance da mão e tudo que possa ser uma superfície… mas basicamente: papel”. Assim como, canetas e tintas das mais diferentes qualidades.
O artista também participou do coletivo TEC (Tentacle Ensemble Collective) – um nome que pode indicar um de seus objetivos como artista – de trabalhar com todos os meios disponíveis - visual, verbal e sonoro – mas de modo animalesco, por via de tentáculos, isto é, estendendo os limites de seu alcance para se meter um pouco em tudo que tem a ver com os meios de incitar, narrar e lembrar. O híbrido e o mundo mix são outros termos aplicáveis a sua produção.
As imagens de Fabiano Gummo parecem querer explorar possibilidades gráficas do mundo em sua multiplicidade ao invés de tentar analisar e fixar as formas da realidade em categorias entendíveis e mastigáveis. Quando vimos os desenhos de Fabiano Gummo, fomos remetidas à história em quadrinho, não à estética do mangá que influencia fortemente o desenho dos jovens brasileiros, mas às estéticas singulares, conflitantes e ambíguas de sentidos irresolvidos e traços inebriantes.
Além das apropriações estilísticas da HQ, há também múltiplas referências a outras linguagens gráficas como, por exemplo, equações matemáticas e desenhos geométricos. Num desenho, duas figuras conversam através de balões do tipo HQ. Mas a significação desta conversa é aberta, pois, ele mistura signos gráficos de todo tipo: letras, números, pontuações, espirais e outras marcas que não fazem muito sentido ou que, potencialmente, fazem muitos sentidos ao mesmo tempo]. Visualmente, percebemos as referências às garatujas infantis com um gosto pela L’Art Brut. Em outro momento, o lirismo gestual e gráfico de Cy Twombly. Uma certa crueza espessa o traço e nos leva ao Expressionismo moderno e ao grotesco das deformações figurativas em Egon Schiele – mas sem romantismos, sem piedades.
Ele mistura arte erudita ou high art com outras da cultura pop, da contracultura e da subcultura. Poderíamos considerar que as justaposições inusitadas de figuras criam relações significantes e absurdas, remanescentes da fotomontagem dadaísta [de repente, um bode, um chapéu e o et cetera banal do cotidiano povoam as partes cheias do papel, enquanto, em outras partes da folha, os vãos sem marcas deixam a superfície respirar a ausência de imagem]. A combinação de imagens que atravessa os desenhos de Fabiano Gummo também nos leva a pensar na Arte Pop Britânica mais quente e nada puritânica de Allen Jones.
Há algo de baixo calão das histórias em quadrinho de Robert Crumb. Fabiano Gummo utiliza o termo lowbrow, que significa literalmente “baixo calão”, e implica o não-erudito, o ocasionalmente perverso, o monstruoso, o absurdo e o irônico. Ao vasculhar as imagens do artista, sentimos um espírito de nossa época embriagado por tantos outros, sentidos não-fixos, em fluxo, reinventados livremente. Permear sua produção é uma oportunidade de acordar a vida e seus acasos como pregava John Cage e/ou participar da experiência de um desvio, como propuseram os artistas situacionistas. Também, poderíamos afirmar que, diante da produção de Fabiano Gummo espessamos a definição da palavra desenho.