Há algumas décadas, o uso de drogas vem se tornando cada vez mais presente na sociedade. Toda droga, independente de ser lícita ou ilícita, pode trazer diferentes problemas à vida das pessoas. Foi na busca de caracterizar o perfil dos usuários de álcool, crack e outras drogas, que o Grupo de Pesquisa em Saúde Mental e Saúde Coletiva da Faculdade de Enfermagem da UFPel concorreu a edital do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que selecionou projetos de estudos sobre o crack, visando a análise do perfil do usuário, os padrões de consumo, a vulnerabilidade e os modelos de intervenção.
Participam desse projeto alunos de diversos cursos da UFPel, entre eles do PET Saúde Mental, e professores da Enfermagem. As pesquisas são feitas por meio de questionários para os usuários que foram selecionados a partir dos registros no Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Capes AD) e na estratégia de Redução de Danos, da Secretaria de Saúde de Pelotas.
Em fase de conclusão, as pesquisas já mostram alguns resultados parciais. Foi observado, em muitos casos, a alta vulnerabilidade social. Para a coordenadora do projeto, professora Michele Mandagará de Oliveira, a carência de políticas sociais pode ser uma das influências para o uso de drogas. “Encontramos com pessoas que disseram que se tivessem melhor qualidade de vida, teriam mais chances de deixar o vício”, contou.
Apesar disso, as pesquisas apontam que existem usuários de crack que fazem uso controlado. Alguns deles trabalham para manter o vício. “Aquele padrão, que todos nós conhecemos, de que todo o usuário de crack é ladrão e violento, está sendo quebrado. Encontramos muitas pessoas que não utilizam de nenhum tipo de violência para sustentar o vício”, disse a estudante enfermagem Milena Oliveira.
As pesquisas mostram ainda que a droga que está mais presente entre os usuários é o álcool, uma droga considerada lícita. Para a professora Michele, é preciso cautela com as propagandas que estimulam o uso de álcool, porque essa droga também causa muitos problemas à sociedade, como acidentes de trânsito e violência doméstica.
Juntamente com essa pesquisa, existem outros trabalhos sendo realizados, como o grupo de estudos, que conta com a participação de alunos do curso de Jornalismo e das Artes da UFPel e da psicologia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Eles se reúnem uma vez por semana para debater o assunto. Há, ainda, um grupo que acompanha as crianças, filhos de usuários de drogas, por meio de um projeto de extensão aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão da UFPel.
Além desses, outra pesquisa está sendo iniciada. Trata-se de um levantamento etnográfico, que acompanhará um grupo específico de usuários de crack. Segundo a coordenadora, essa pesquisa precisará de um tempo maior para a sua realização. Para esse trabalho, o grupo conta com a orientação de dois antropólogos, Thiago Lemões, da UFPel, e Luana Malheiro, da Universidade Federal da Bahia.
Para a professora Michele, o resultado desse projeto deverá impactar na organização de políticas públicas que pensem na melhoria da qualidade de vida dos usuários de drogas, incentivando o respeito e inclusão destas pessoas na sociedade. “Não somente na nossa cidade, mas em grande parte do país, visto que o projeto é desenvolvido por várias Universidades”, considera a docente.
A coordenadora observa que, para Pelotas, a esperança é que os leitos nos hospitais gerais aumentem e se qualifiquem, para que possam receber terapeuticamente usuários de drogas e, também, a criação do CAPS III AD, bem como o acompanhamento do poder público junto às comunidades terapêuticas existentes hoje na região.