O projeto de um mecanismo para semeadura de precisão de sementes miúdas, que tem como um dos autores o professor da Faculdade de Agronomia da UFPel Ângelo Vieira dos Reis, conquistou a patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A proposta teve como suporte a tese “Desenvolvimento de Concepções para a Dosagem e Deposição de Precisão para Sementes Miúdas”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. Além de Ângelo Reis, que defendeu sua tese em 2003, tem a autoria do invento também o professor Fernando Antônio Forcellini, orientador do estudo. O processo de patenteamento, que teve apoio do Departamento de Inovação Tecnológica (DIT) da UFSC, levou sete anos.
A cultura de arroz, trigo, sorgo, cevada, aveia e centeio, todos considerados grãos miúdos, representa aproximadamente 17% da produção nacional . O mecanismo dosador patenteado tem princípio mecânico e é pensado para ser acoplado aos tratores. Foi concebido para garantir a colocação das sementes dentro da linha de semeadura com distâncias pré-definidas, tornando possível quantificar o número de grãos distribuídos por metro linear. Essas máquinas possuem mecanismos dosadores que permitem a colocação de sementes espaçadas umas das outras, dentro da linha de semeadura, com distâncias definidas, gerando assim um potencial para a redução da quantidade utilizada por hectare.
“Ficou claro que com a tecnologia atual há uma limitação na quantidade mínima de sementes que pode ser utilizada numa área, um obstáculo à redução dos custos de produção, principalmente quando se considera o preço das sementes de qualidade”, destaca Ângelo, que observou no mercado brasileiro e mundial a inexistência de semeadoras de precisão para grãos miúdos. Para sementes grandes, como o milho, há equipamentos do gênero.
A tese, base para o processo de patenteamento, descreve o estudo, o projeto, a construção de protótipos e os testes de soluções para a dosagem e a deposição, com atenção especial ao arroz. Ângelo utilizou a metodologia de projeto desenvolvida pelo Núcleo de Desenvolvimento Integrado de Produtos, que trata o processo de projeto de forma sistemática. Os estudos serviram de base para duas concepções de produto ─ um mecanismo de dosagem e de posição de semente miúdas com funcionamento mecânico e outro com princípio mecânico-pneumático. A construção de protótipos e a realização dos testes teve apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por meio da Rede Engenharia Agroindustrial de Alimentos.
“É uma invenção, não se tornou um produto. Mas ficamos contentes, pois foi reconhecido pelo INPI que não há algo assim no mundo. É um exemplo que pode ser estímulo a outros projetos”, avalia o professor Fernando Forcellini, consciente de que a transferência do conhecimento para o setor produtivo é ainda um desafio para as universidades. “A universidade está cumprindo seu papel de gerar conhecimento e formar pessoas”, complementa, lembrando que além de possibilitar um doutorado, a pesquisa envolveu estudantes de graduação, que atuaram como bolsistas de iniciação científica.
“Muitos produtos esbarram na cultura, na falta de uma visão de cadeia”, lamenta o professor sobre a visão imediatista, a lógica de ganhar sem muito esforço e a dificuldade do mercado em assumir riscos. Integrante do Instituto Fábrica do Milênio e do Grupo de Engenharia de Produto e Processo, o professor participou do desenvolvimento de vários protótipos de equipamentos para agricultores. Entre eles, um Sistema Modular para o Preparo de Solos em Pequenas Propriedades; um Picador de Cobertura Vegetal Acoplável a Tratores de Rabiças; um Separador de Sólidos de Dejetos Suínos; uma Semeadora Adubadora por Covas Acoplável a Tratores de Rabiças; um Rolo Facas para Manejo de Cobertura Vegetal e um Implemento para a Abertura e Adubação de Sulcos no Plantio Direto.