A recente perda de Itamar Franco conduz à singela homenagem de quem, havidos quase vinte anos, conheceu, através da atitude decisiva do ex-Presidente da República, o seu amor pelo Brasil.
Reporto-me aos idos de 1993, quando, a partir da extinção da Sudesul , órgão pertencente ao antigo Ministério do Interior, a UFPEL recebia as atribuições de administrar o lado brasileiro do Tratado Brasil-Uruguai da Lagoa Mirim, firmado há pouco mais de um século , consolidando os vínculos históricos e culturais entre as duas nações.
O decreto 1148, de 26 de maio de 1994, tornou a UFPEL uma instituição pioneira nas ações de integração fronteiriça com resultados imediatos: foi criada a Agência para o Desenvolvimento da Lagoa Mirim e, no ano seguinte, foi inaugurado o Centro de Integração do Mercosul na área histórica da cidade de Pelotas. Deste modo, era materializado o tratado de Assunção, além dos interesses aduaneiros, ao situar a educação superior voltada para a integração regional.
Com aquele gesto simples do Presidente foi plantada a semente para o desenvolvimento regional, pois professores e alunos passaram a vislumbrar na fronteira as possibilidades de transformar o cenário empobrecido do sul do Brasil e do norte do Uruguai. Afinal, era preciso unir a educação e outros campos do conhecimento, a fim produzir riquezas e outras ações integradoras. Então, em julho de 2005, o reitor da UFPEL, autoridades do MEC e o prefeito de Bagé se reuniram para dar inicio ao projeto de uma nova universidade na região da fronteira, que mais tarde recebeu o nome de Unipampa, a qual firme e independente, passou rapidamente a desempenhar seu papel na região.
Era também necessário fazer com que, nas águas da Lagoa Mirim, viessem trafegar gentes e produtos. Este ideal deu origem ao primeiro estudo sobre a viabilidade econômica e social da Hidrovia do Mercosul através da Lagoa Mirim, cujo trabalho foi concluído e entregue pelo reitor da UFPEL ao Ministério dos Transportes em 2007.
Desde aquela época até os dias de hoje, as relações entre a universidade, os prefeitos e os intendentes das cidades uruguaias da fronteira foram gradativamente se consolidando. Esta salutar e continuada convivência mostrou problemas comuns da fronteira e soluções viáveis a partir de entendimentos recíprocos . Em consequência disso, em 2010, foi criado o Núcleo de Estudos Fronteiriços da UFPEL, próximo à linha divisória de Livramento e Rivera, para estudar e apoiar o processo de integração do Mercosul e da América Latina.
De pronto, várias atividades foram empreendidas com o apoio e a participação de diversos segmentos da população fronteiriça, que, observada pela academia, tem buscado mostrar no Núcleo de Estudos Fronteiriços que todos juntos podem promover o desenvolvimento desta extensa região e minimizar as assimetrias dos nossos povos, sem, contudo, perder sua identidade e sua soberania.
As Unidades Fronteiriças de Saúde para atendimento médico-assistencial de usuários de ambos os países e a Escola Binacional de Restauração de prédios históricos, dedicada a jovens em situação de vulnerabilidade social, são novas metas a serem desenvolvidas pela UFPEL nas cidades gêmeas, com início em Livramento e Rivera.
Finalmente, vale dizer que ao atender o pedido do reitor , o então presidente Itamar Franco transferiu para a UFPEL as barragens da Lagoa Mirim, não somente para que aquela instituição abrisse e fechasse comportas. Foi mais longe! Ele permitiu que essa instituição federal de ensino superior ultrapassasse limites convencionais de sua atuação e propusesse a hidrovia do Mercosul e projetos inovadores na área da saúde e meio ambiente, com benefícios marcantes para as populações.
Certamente nossos governantes apoiarão os anseios de nossas fronteiras, onde continuaremos a honrar a memória do grande e simples Presidente que há pouco tempo nos deixou!
Antonio Cesar Borges
Reitor da UFPEL