O Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (PPGEE/UFPel) inicia neste 18 de outubro as defesas dos mestrandos da 10ª turma. Serão 14 mestrandos a apresentarem seus trabalhos que fazem parte do consórcio “Diagnóstico de saúde em crianças, adultos e idosos da cidade de Pelotas, RS, 2010″.
O consórcio é uma experiência inovadora iniciada em 1999 no curso de mestrado que realiza um trabalho de campo único, na forma de um estudo transversal de base populacional, em que todos os mestrandos participam de maneira integral, obtendo dados para sua dissertação. Essa estratégia tem garantido a formação de mestres em epidemiologia com forte base teórica e com experiência de preparação e condução de um trabalho de campo. Além disso, tem sido possível manter um tempo de titulação abaixo de 24 meses.
Nessa turma, o objetivo foi conhecer a situação da saúde da população pelotense e diagnosticar relevantes problemas de saúde pública e, assim, instrumentalizar os gestores municipais no planejamento de ações efetivas.
Os primeiros resultados dos estudos permitiram diagnosticar problemas de saúde pública na população estudada em relação ao uso de medicamentos, aos hábitos alimentares e na aplicação de métodos para avaliação da atividade física em crianças. Ao todo, foram entrevistados 2732 indivíduos entre 20 e 59 anos e 239 crianças de 4 a 11 anos na zona urbana de Pelotas.
Com relação à utilização de adoçantes dietéticos, comprovou-se que aproximadamente 20% da população pelotense utilizou-os na semana anterior a pesquisa, destes, mais da metade utiliza sem prescrição de algum profissional de saúde. O estudo constatou ainda que quase duas de cada três pessoas estavam com excesso de peso.
Quanto ao uso de Ácido Acetilsalicílico (AAS) como prevenção de doenças cardiovasculares, o estudo evidenciou baixo consumo entre a população pelotense. O uso deste medicamento é indicado para as pessoas com mais de 40 anos, diabéticas, portadoras de pressão e/ou colesterol altos, na prevenção primária do infarto ou isquemia. Nas pessoas com história de isquemia e/ou infarto prévio, o uso do medicamento é indicado como prevenção secundária. No entanto, apenas 25% da população estudada estavam usando a medicação como prevenção primária e 34% como prevenção secundária.
O estudo sobre o consumo de leite encontrou que apenas um terço da população avaliada ingere leite diariamente e desses, menos de 20% atendem a recomendação de consumo de três porções diárias. Cerca de uma de cada quatro pessoas entrevistadas informaram não ingerir nenhum tipo de leite e o baixo consumo diário observado em adultos jovens (20-29 anos) pode aumentar o risco para o desenvolvimento futuro de osteoporose.
Em 2.097 entrevistados de 20 a 59 anos, 8% tiveram pelo menos um episódio de compulsão alimentar nos três meses anteriores à entrevista, sendo mais comum nas mulheres, jovens, pessoas obesas, que relataram pior estado de saúde e desejo de pesar menos. A compulsão alimentar, também chamada de “ataque de fome”, é um sintoma de transtornos alimentares graves e se caracteriza pela ingestão de grande quantidade de comida em pouco tempo, acompanhada da sensação de perda do controle do que e de quanto se comeu.
A avaliação da atividade física em crianças entre 4 e 11 anos de idade, através de um instrumento chamado acelerômetro mostra que cerca de três de cada quatro crianças realizavam atividade física de acordo com as recomendações, ou seja, pelo menos 60 minutos por dia de atividade física moderada ou vigorosa. Desse modo, esses resultados mostram que a prática de atividade física parece não constituir um problema importante nesse grupo etário, onde o aumento na ocorrência de obesidade e de suas consequências também já é observado.
Esses são alguns dos resultados encontrados neste estudo e espera-se que essas informações possam contribuir para a melhoria das condições de saúde dessa população, bem como gerar novos conhecimentos que servirão no planejamento de políticas públicas tanto ao nível municipal, estadual como federal.