Estudo realizado no curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFPel, de autoria de João Luiz Bastos (UFPel), orientado pelos professores Aluísio Barros (UFPel) e Eduardo Faerstein (UERJ), aponta que jovens universitários do Rio de Janeiro passam por diversas e diferentes experiências de discriminação ao longo de suas vidas. A pesquisa, que tem com o objetivo de auxiliar a construção de um questionário para avaliar experiências de discriminação, mostrou que estes jovens reconhecem-se como vítimas de discriminação em situações muito corriqueiras de seus cotidianos.
Segundo os participantes do estudo, tais experiências discriminatórias ocorreriam na interação com os colegas da universidade, no ambiente familiar, especialmente no convívio com os pais, na relação com os professores, em festas e também nos contatos com a polícia ou com profissionais de segurança. Outro aspecto que chamou atenção dos pesquisadores foram os relatos de que os jovens perceberam-se discriminados por mais de um motivo, simultaneamente. O caso de uma entrevistada que se sentia discriminada por ser pobre, negra, ter nascido em outro município e morar em uma região menos valorizada da cidade ilustra bem a complexidade envolvida nas experiências de discriminação.
Porém, tal complexidade não se restringiu às motivações para as experiências discriminatórias. Uma maior intimidade entre as pessoas, o tom de voz ameno e carinhoso, a manifestação de preconceitos sob a forma de piadas ou brincadeiras são fatores que podem diluir a carga discriminatória que determinado comportamento pode ter entre as pessoas. Tudo isto revela que a interpretação de um comportamento como discriminatório é dada por uma série de condições muito específicas e passageiras das relações que os indivíduos estabelecem entre si, sob a influência de experiências passadas.
Igualmente interessante foi a constatação de que, segundo os jovens, a pobreza amplia situações de preconceito e discriminação e, principalmente, que as relações de poder favorecem a manifestação de discriminação entre as pessoas. Por fim, os pesquisadores observaram também que os participantes do estudo não se reconheceram apenas como vítimas de discriminação, mas também como agentes discriminadores.
Isto sugere que as relações entre as pessoas se dão de maneira muito dinâmica, nas quais a troca de posições e papéis deve ser considerada como um elemento importante. A pesquisa é parte da tese de doutorado de João Luiz Bastos. Seu trabalho conclui que, embora as experiências de discriminação sejam fenômenos complexos e difíceis de avaliar, estão muito presentes no cotidiano das pessoas.
O estudo Desigualdades “raciais” em saúde: medindo a experiência de discriminação auto-relatada no Brasil, será defendido às 14h do dia 15 de julho, na sala 331 do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel. A banca será composta pelos professores Ceres Gomes Victora (UFGRS), Bernardo Lessa Horta (UFPel) e Luiz Augusto Facchini (UFPel).