Dissertação conduzida pelo professor Gustavo da Silva Freitas, aluno do Curso de Mestrado
O fracasso da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2006 reanimou o debate da representatividade que uma seleção pode ou não assumir em relação às características culturais e futebolísticas da nação a qual representa. O sentimento coletivo de derrota diante do desempenho não esperado nos campos alemães compôs um cenário de implosão de uma identidade para a Seleção Brasileira e para o futebol brasileiro. Essa desconstrução de um modelo que se mostrou insatisfatório tem sua amplitude para além da desclassificação nas quartas-de-final frente à Seleção Francesa gerando, adiante, uma renovação destacada pela mudança no comando técnico, pela busca de novos jogadores, pela construção de outras identidades.
Partindo do princípio de que esta identidade é resultado de um processo discursivo nunca completado, mas que responde a uma emergência histórica, o estudo denominado Espírito de Seleção: um estudo dos discursos midiáticos a partir da Copa do Mundo de 2006, investigou a forma como se estabeleceu esse processo mapeando e analisando os agenciamentos que foram postos em prática e como a imprensa participou e está participando da reconstrução de uma nova imagem, de um novo sentimento coletivo, enfim, de outras identidades possíveis para a Seleção Brasileira. Dentro desses agenciamentos destaca-se a escolha do ex-jogador Dunga para treinador da Seleção Brasileira, figura até então sem referencial como treinador, mas que indica um novo perfil para este cargo.
A opção pelo campo midiático como referência empírica parte da relevância diante dos acontecimentos esportivos atuais no que diz respeito à produção de sentidos múltiplos que acabam estabelecendo um diálogo entre prática discursiva e constituição de identidades. Um diálogo que é resultado de um constante estado de lutas entre as formas que essa identidade é visibilizada pelos canais de comunicação.
Ao selecionar os textos para a análise realizada desde a Copa do Mundo de 2006 até o fim de 2008, percebe-se que muito mais do que uma homogeneização ou, um metadiscurso, o campo midiático produz efeitos de verdades a partir de uma multiplicidade discursiva que procura definir a realidade que assistimos. Esta multiplicidade também atende a uma demanda discursiva inacabada, algo que está em constante reconfiguração a partir de enunciados produzidos e incorporados pelo campo midiático, provocando alterações, reafirmações, começos e desaparecimentos de determinados elementos que constituem as identidades.
Os vários discursos que recaem sobre o significado de “espírito de seleção”, por exemplo, estão dedicados a arrastarem seus enunciados particulares a uma função totalizante, mas só conseguem isso de modo temporário. Se hoje, a presença de Dunga faz com que esse “espírito de seleção” esteja sinônimo de valentia, de garra, de raça, de amor à camisa verde-amarela, esta aproximação é parcial. Ao não satisfazer toda uma demanda discursiva midiática, há a iminência de uma ruptura com esse modelo ou com as caracterizações desse modelo.