O Conservatório de Música da UFPel promove nesta terça e quarta-feira(22 e 23), às 18h, na Sala Milton de Lemos, palestras sobre o tema “A Aleatoriedade na Música Brasileira”, a cargo do compositor Luiz Carlos Lessa Vinholes.
Nascido em abril de 1933, Vinholes estudou com José Pinto Bandeira e Lourdes Nascimento. Freqüentou o Curso Internacional de Férias da Pró-Arte em Teresópolis (1953); foi secretário particular de H. J. Koellreutter (1953-1957) e aluno de composição e flauta na Escola Livre de Música da Pró-Arte; substituiu-o na coluna Música no Diário de São Paulo. Bolsista do Ministério da Educação do Japão (1957-1959), estudou no Departamento de Música da Universidade de Artes e notação antiga do “gagaku” (música da corte) e prática de “sho” (órgão de boca) e “shichiriki” (espécie de flajolé) no Departamento de Música do Palácio Imperial de Tóquio e na Associação Ohno de Gagaku. Utilizou o dodecafonismo e apresentou em São Paulo (1956) a teoria Tempo-Espaço: Uma Nova Técnica de Composição Musical, na qual as dicotomias e dualismos tanto do sistema tonal quanto do dodecafônico são superados. Técnica de caráter contrapontístico, utilizada na maioria de suas obras, onde o silêncio é matéria estrutural e não meramente ausência de som. Em 31/12/1961, no Estúdio do Grupo de Música Nova Tomohisa Nakajima (Tóquio), utilizaram pela primeira vez sua Instrução 61, para quatro instrumentos quaisquer, que viabilizaram as primeiras obras de caráter aleatório baseadas em parâmetros criados por compositor brasileiro. Em março de 1962, lançou a Instrução 62 para instrumentos de teclado. Nessas obras os resultados são obtidos com a participação dos instrumentistas e do público na figura do colaborador, assim descaracterizando os tradicionais “compositor”, “intérprete” e “público”. As instruções foram publicadas na revista Design nº 37 (Tóquio 1962).
Obras de Vinholes, apresentadas no Brasil e no exterior, são objeto de teses e monografias por professores-pesquisadores com mestrado e doutorado, dentre eles Mário de Souza Maia, Valério Fiel da Costa e Lilia de Oliveira Rosa. Têm destaque as primeiras audições de suas obras Existencialismo, no Nihon Seinenkan Hall (Tóquio 1958); Tempo-Espaço VI, no First International Festival of Contemporary Music (Osaka 1963); Tempo-Espaço VIII, no XVI Concerto de Música Nova promovido pelo Instituto Goethe (Tóquio 1974); Tempo-Espaço IX, no Festival da Universidade Federal da Bahia (Salvador 1975); Tempo-Espaço XI, na Sala Villa-Lobos (Paris 1978); Tempo-Espaço XIII, no XIV Festival Música Nova (Santos 1978); e Tempo-Espaço XV, no II Panorama de Música Brasileira Atual (Rio de Janeiro 1979). Suas obras foram editadas pela Coleção Shin Nippaku (Tóquio), Novas Metas (São Paulo) e Editora da Universidade de Brasília. A Escola de Comunicações e Artes da UnB e a Sociedade Brasileira de Música Contemporânea, apoiadas pelo Itamaraty, publicou catálogo de suas obras (1976). Professor convidado do VIII e X Curso Latino Americano de Música Contemporânea (São João del Rei-MG 1979 e República Dominicana 1981), do IV Encontro de Compositores e Intérpretes da América Latina (Belo Horizonte 2002) e compositor convidado do XIV Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Anppom (Porto Alegre 2003).
Nos 35 anos de permanência no exterior, dedicou-se à divulgação da cultura e da arte nacionais, incluindo a Exposição de Poesia Concreta Brasileira no Museu de Arte Moderna de Tóquio e a mostra Partituras e Manuscritos de Música Contemporânea Brasileira na galeria da Embaixada do Brasil (1961 e 1977). É um dos responsáveis pela criação do Instituto Brasil-Itália (Milão l997).
Delegado brasileiro ao Encontro Musical Este-Oeste da Unesco (Tóquio 1961); observador brasileiro na V Conferência da Sociedade Internacional de Educação Musical, no Simpósio Internacional de Teatro Ocidente-Oriente (Tóquio 1963) e no Simpósio Internacional de Especialistas de Arte do Oriente e do Ocidente, promovido pela Unesco e pela AICA - Associação Internacional de Críticos de Arte (Tóquio 1966).
Dedica-se à poesia, traduziu poetas japoneses e canadenses, publicou a antologia Reta da Fumaça, de Kitasono Katsue (Editora Fontes 1982). Poeta-convidado do Festival Internacional de Poesia Contemporânea de Veneza (1997) e Autor-convidado do Festival Viva Língua, em Pietra Ligure (1997) e do Festival Internacional de Poesia Visiva, em Mantova (1998).
Seus 14 anos de permanência no Japão e as estadas na Coréia do Sul e China permitiram conhecer outras formas de organização do pensamento e do fazer musical possibilitando maior liberdade com relação aos conceitos e preceitos da cultura ocidental. Cultiva a economia de meios de expressão, a concisão da linguagem e dá preferência ao tratamento pragmático do processo de criação. Suas obras têm curta duração e estrutura própria e independente. Mostra interesse por uma linguagem com indeterminação, cultivando aspectos aleatórios.
O compositor santista Gilberto Mendes, diretor-fundador dos Festivais Música Nova de Santos, afirma que “Vinholes sempre foi um solitário, indiferente às modas, às ondas nacionalistas - atualmente parece que estamos entrando numa razão porque sempre se manteve na sua, cuidando do desenvolvimento de sua linguagem, sua pesquisa. É um herdeiro espiritual do pensamento musical de Anton Webern, o grande mestre da Escola de Viena. Trabalha sua música com uma bem pensada economia de meios. E trabalha pouco, só quando reconhece que vale a pena comunica o que concebe. Tal como Webern. Por isso já o chamei de compositor bissexto” (Tribuna de Santos 1976).