Há poucos dias, Tasso Faraco de Azevedo encerrou sua missão. Professor Emérito, saiu de cena com grandeza e dignidade. Suportou o peso do fardo que teve de carregar. E o fez sem queixas, ciente de que uma força extra, que não se sabe de onde vem, nos dá condições de suportar toda sorte de infortúnios.
O professor de uma vida inteira deixou entre nós um vazio que jamais será preenchido, pois quando alguém que queremos bem parte para sempre, leva consigo uma parte de nós mesmos. Ficamos menores. Por tal razão, escrevo em homenagem a um amigo leal. E o faço, não como dirigente da UFPel, mas na condição de professor e de amigo, que, ao longo das lutas políticas travadas em prol do progresso da Educação Superior, encontrou em Tasso uma figura elevada, afetuosa, sempre pronta a aconselhar e a mostrar o caminho em busca da justiça. As lições por ele deixadas serão relidas por muitos de nós, e especialmente por aqueles que agem em nome das grandes urgências educacionais do século XXI. Deste modo estaremos anexando à nossa reflexão mais campos de experiência e estaremos buscando nas fontes mais nobres e profundas do pensamento novos sonhos para os abrir à realidade.
Nosso convívio, em função dos compromissos acadêmicos, foi relativamente curto, talvez medido em horas, porém soube ser repleto de afeto, quase de pai para filho, que nem mesmo a distância foi capaz de reduzir a grandeza destes sentimentos.
Em meu tempo dedicado inteiramente à UFPel, jamais esquecerei as cobranças de visitas, que requeria com freqüência, movidas pelo afeto e talvez pela consciência de que se aproximava do desconhecido. Eu as atendia, precariamente e dentro do possível. Hoje tenho consciência de que, na longa ausência, a verdadeira afeição não se esvai.
A doença implacável que o atingiu não permitiu que Tasso perdesse a capacidade de amar. Continuou amando seus amigos, sua Universidade, seus familiares e a própria vida, sempre ciente de que a existência está em contínua transformação, mas com perene certeza de que tudo o que o amor toca está salvo da morte.
Nesta hora de saudade, eu poderia destacar seus méritos acadêmicos, muito superiores aos que levei ao Conselho Universitário da UFPel, no sentido de que nossa Instituição fosse honrada com seu nome na pequena galeria de professores eméritos. Porém, neste instante de dor e de tristeza, permito-me julgar ser mais sincero e adequado prestar a esse querido e grande mestre uma homenagem que possa suscitar aos jovens estudantes do futuro, uma simples pergunta: - Quem foi aquele professor de cabelos brancos que aparece nas fotografias dos mestres insignes e que a Universidade admirava e respeitava?
Estou convencido que, dentre os que tiveram a ventura de conviver com ele, virá a resposta objetiva. Apenas dirão “aquele senhor de cabelos alvos, fisionomia serena, ensinou ciência a muitos, mas sua lição maior foi dada nos momentos finais de sua jornada ao superar o sofrimento e a dor com resignação e espírito elevado, características daqueles poucos escolhidos que, ao partir, se encantam iluminados pelo Criador”. Por fim, com o pensamento voltado para a figura exemplar de Tasso Faraco de Azevedo, sinto que a vida não é nunca tão breve que não haja tempo bastante para o reconhecimento, a gratidão e os mais profundos sinais de amizade, através dos quais também desejo manifestar consideração e estima à dona Maria, sua dedicada esposa, e aos seus familiares.
Antonio Cesar G. Borges
Médico e Professor