Atualmente, as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morbi-mortalidade em âmbito mundial. No Brasil, mais que um quarto dos óbitos são devidos a estas doenças. A patologia básica responsável pelas complicações das doenças cardiovasculares é a aterosclerose, processo inflamatório que se caracteriza por lesões espessadas e endurecidas das artérias. Esta inflamação pode resultar de fatores prejudiciais crônicos e bastante comuns, como obesidade, tabagismo e estresse.
Uma pesquisa elaborada no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel (RS), financiado pelo Capes (Brasil) e o Wellcome Trust (Reino Unido), usou como população alvo a Coorte dos nascidos em Pelotas em 1982. O doutorando em epidemiologia, Aydin Nazmi, com a orientação de Cesar Victora, como parte do seu projeto, avaliou níveis de proteína C reativa, um marcador sensível de inflamação, através de amostras de sangue que foram coletados em 2004-05 durante a visita aos membros da coorte. A defesa de tese de doutoramento será realizada na próxima segunda-feira(17), às 14h, no auditório do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia (PPGE).
No estudo observou-se que os níveis de inflamação foram maiores nas pessoas que apresentavam sobrepeso ou obesidade, que eram tabagistas e, ainda, em indivíduos expostos a um maior nível de estresse.
Além destes fatores atuais, certificou-se que exposições no inicio da vida e condições socioeconômicas também tinham um forte impacto nos níveis de inflamação, como por exemplo a relação com a educação materna: quanto menor o grau de escolaridade da mãe, maior foi o nível de inflamação encontrado no filho aos 23 anos de idade. Uma outra observação foi que o ganho de peso excessivo começando na infância pode resultar em níveis elevados de inflamação na vida adulta.
Embora seja conhecido que fatores comportamentais, sedentarismo, tabagismo e obesidade têm papel fundamental no desenvolvimento das doenças cardiovasculares, os resultados deste estudo mostraram que os riscos podem começar ainda na vida intra-uterina e durante a infância.
Portanto, medidas de saúde pública direcionadas ao combate da incidência de doença cardiovascular, além de enfocar nos fatores contemporâneos como obesidade e tabagismo, deveriam também considerar a importância das influências que atuam silenciosamente desde a vida intra-uterina. Assistência a saúde materna, amamentação e alimentação adequada na infância e ganho de peso saudável durante da vida podem resultar em benefícios para uma incidência reduzida das doenças cardiovasculares a longo prazo.