Morreu esta madrugada, às 5 horas, em Caxias do Sul, de parada cardíaca, o ex-reitor, ex-deputado federal e ex-presidente da AULP, professor Ruy Pauletti, 76 anos. Ele será velado na Câmara de Vereadores da Pérola das Colônias. Líder do PSDB, Pauletti foi poderoso presidente da Associação Internacional de 157 Universidades de 7 países de língua portuguesa. Ele será sepultado nesta segunda-feira, às 10 horas, no Cemitério Santa Corona, em Caxias do Sul.
Pauletti foi Reitor da Universidade de Caxias do Sul, deputado estadual, deputado federal, e candidato a prefeito de Caxias do Sul, pelo PSDB, em 2004. No cenário internacional, como dirigente universitário, alcançou a presidência da AULP, onde se destacou internacionalmente.
Veja o texto de Clayton Rocha, publicado no site do programa Pelotas 13 horas:
Ruy Pauletti brilhava na cena universitária
Viajamos juntos para a China, em 1998. Ele, uma das figuras mais respeitadas e admiradas pelo Governo do território português de Macau, ao Sul da China. Testemunhei isso, ao vivo, durante a reunião das 157 Universidades dos 7 países de Língua Portuguesa, a última em Macau, território que Portugal iria devolver à China no final de 1999. Antonio Guterrez, o primeiro-ministro, foi a estrela do encontro. Ruy Pauletti, o reitor da Universidade de Caxias do Sul e presidente da Associação Internacional de Universidades de Língua Portuguesa, foi o brilhante organizador do evento, e respeitadíssimo pelo Governo de Macau, pela Fundação Macau (orçamento de 10 bilhões de dólares) e pelo governo de Lisboa. Estreitamos laços, ele esteve no 13 Horas em visita de amizade, e foi decisivo, atendendo pedido do ex-ministro Carlos Alberto Chiarelli, seu grande amigo, ao incluir a UFPel no comando da AULP, através de uma vice-presidência da entidade.
Na reunião de Macau, informado por alguns reitores sobre o projeto bi-nacional Luso Grande do Sul/ Brasil:500 anos, e do papel que eu desempenhava nessa proposta, ele abriu espaço, no formidável salão de eventos da Fundação Macau, enquanto recebia o primeiro-ministro de Portugal, para que eu pudesse usar da palavra, dirigindo-me às representações de 7 países de língua portuguesa. Foi um dos grandes momentos do projeto, que ali se fortaleceu, e ganhou corpo, tendo o ex-presidente e ex-primeiro ministro de Portugal Mário Soares como seu presidente de honra.
Jamais vou esquecer nossas longas conversas, ele que era um tanto retraído diante de amizades novas, durante um vôo de quase trinta horas, que nos levou de São Paulo ao aeroporto de Hong Kong, já chinesa naquele abril de 1998. Ruy Pauletti “mandava” em território português do outro lado do mundo. Era um homem de ação, articuladíssimo, e já merecia atenções muito especiais do dr Edmundo Oh, afilhado do presidente chinês Jiang Zeming, poderoso presidente do banco de Taifung, e futuro Governador do território. Ruy deslizava fácil por entre os salões do poder, defendendo apaixonadamente as causas de sua Associação de Universidades de Língua Portuguesa. E Ruy Pauletti merece que eu diga isso aos caxienses, muito especialmente, e aos gaúchos em geral, no dia de sua morte. E o faço em comovida homenagem à sua memória.
A conexão chinesa
Até dezembro de 1999, o território de Macau pertencia a Portugal. O Governador era o general Vasco Joaquim Rocha Vieira, que fora designado para o cargo pelo primeiro-ministro de Portugal Mário Soares. Rocha Vieira veio ao Brasil em 1996, e foi recebido pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto. Eu estava lá, por iniciativa do vice-presidente Marco Maciel. Depois, ainda apoiado pelo Vice-Presidente da República e Presidente da Comissão do V Centenário do Brasil, Marco Antonio de Oliveira Maciel, fui recebido pelo Governador de Macau na Embaixada de Portugal. Eu disse a ele que Mário Soares, então Presidente da Associação Internacional dos Oceanos, órgão da ONU, era o presidente de honra do projeto criado no Rio Grande do Sul. Ele se interessou pelo assunto, esticou a conversa, e convidou uma delegação gaúcha a visitar oficialmente Macau, o território que ele devolveria à China em 1999. Os visitantes seriam hóspedes oficiais de seu Governo, e participariam de inúmeros atos no território, sendo um deles o almoço para 10 convidados, oferecido no Palácio da Praia Grande ao então presidente da FIFA João Havelange.
Num outro momento, fomos convidados a jantar com o presidente do Banco de Taifung, o futuro Governador geral do território, Dr. Edmundo Oh. Foi nesse jantar que nossa comitiva percebeu o altíssimo nível da generosa acolhida que nos era dada pelo General Vasco Joaquim Rocha Vieira. Edmundo Oh era neto de um senador chinês, responsável pela descoberta de um jovem cheio de talento, logo guindado à estrutura maior do Partido Comunista Chinês, cuja Secretaria Geral está instalada junto à Praça Tian’anmen, a praça da paz celestial, em frente ao Palácio do Povo, o centro das grandes decisões da China. E o jovem “cheio de talento” não era ninguém mais, ninguém menos do que Jiang Zeming, o atual e poderoso Presidente da República Popular da China.
Foi este mesmo Jiang Zeming que, em dezembro de 1999, desembarcou em Macau, a bordo de um avião da Air China, para fazer justiça ao brilho intelectual de Edmundo Oh, e para sinalizar a sua gratidão ao avô do novo Governador Geral, que o descobrira, certa feita, lá atrás no tempo, numa das províncias mais distantes e esquecidas do interior da China. Os dois projetos, Luso Grande do Sul e Brasil:500 anos, portanto, mais a Associação Internacional de Universidades de Língua Portuguesa, AULP, sob a presidência de Ruy Pauletti; o Governo do Brasil; o Governo de Portugal; o Governo de Macau; a Comissão Nacional do V Centenário, presidida por Marco Maciel; a Associação Internacional dos Oceanos, presidida por Mário Soares; a Fundação Macau; e, justiça seja feita, o Governo de Antonio Britto no Rio Grande do Sul; a Assembléia Legislativa do RS; a Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, marcaram época graças aos extraordinários apoios recebidos. E tiveram participação marcante nas ações voltadas para as comemorações que alcançariam o seu momento mais nobre naquele 22 de abril de 2000, em Porto Seguro, na Bahia. Onde eu também me encontrava.
(Foto: Juan Barbosa)