Uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel estudou o Programa Saúde da Família (PSF) no Rio Grande do Sul. A pesquisa é resultado de uma tese de doutorado e teve a participação dos Grupos de Pesquisa da América e África Latinas - GRAAL da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. Os pesquisadores procuraram saber se onde o PSF foi implantado as pessoas internam menos no hospital por causas como desidratação, pneumonia, infecção urinária, asma, insuficiência cardíaca e outras. Essas causas são chamadas Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP). Quando alguém com um problema desse tipo recebe tratamento adequado no momento certo não há necessidade de internação. Por essa razão espera-se que as pessoas internem menos por essas causas onde a Atenção Básica da Saúde funciona melhor.
Foram realizados dois estudos. Um deles entrevistou os pacientes hospitalizados pelo SUS em Bagé para saber se o tipo de Unidade de Saúde de referência do paciente, ou o local de consulta antes da internação (se foi no PSF, outro tipo de Posto de Saúde, ou com médico particular, plano ou outro) se relacionava com um diagnóstico de CSAP. Essa comparação mostrou que entre as pessoas que têm como referência uma Unidade de Saúde do SUS em Bagé, e principalmente se ela for do PSF, a proporção de diagnósticos de CSAP entre os pacientes internados é a mesma, independente da condição socioeconômica do paciente. Significa que a Atenção Básica do SUS, e o PSF mais ainda, corrigem os efeitos da desigualdade socioeconômica sobre essas causas.
De outra parte, foram estudados os municípios gaúchos para saber se as taxas de internação por CSAP eram menores onde o PSF tinha maior cobertura e estava implantado há mais tempo. Foram identificados os municípios em melhor e pior situação no RS e comparados com os de situação mediana, para saber se o PSF ou outras características do sistema de saúde se associavam ao fato de o município estar entre as taxas mais altas ou as mais baixas do Estado. O PSF não se associou a menores taxas. Pelo contrário, nos municípios com menos de 50 mil habitantes (91% dos municípios do Estado) as internações foram mais freqüentes onde a cobertura e o tempo de implantação do PSF são maiores. No entanto, não se conhece a real confiabilidade dos dados de cobertura do PSF no Estado, e é possível que esses resultados sejam devidos a um registro exagerado de cobertura por parte de alguns municípios.
A conclusão do estudo é que a cobertura do PSF não é suficiente para garantir os resultados do programa. Foi identificado o terço de municípios gaúchos com piores taxas de internação por CSAP. É importante que se controlem os modos de organização do PSF e o registro das informações de saúde, principalmente nesses municípios em pior situação. A tese será apresentada por Fulvio Nedel, no auditório Kurt Kloetzel do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, nesta quarta-feira(18), às 9h. A banca será formada pelos professores Luiz Augusto Facchini (UFPel), Iná dos Santos (UFPel), Pedro Hallal (UFPel) e Felipe Sparrenberger - Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB).
Pesquisa avalia o Programa de Saúde da Família
17 de Fevereiro de 2009
Seção: Notícias